sábado, 2 de maio de 2009


Eu e o meu avô.

Santo André das Tojeiras é uma aldeia e freguesia, que pertence ao concelho de Castelo Branco.
Nos anos 60/70, a vida na aldeia era difícil. Trabalhava-se de sol a sol, por isso, nos dias de inverno, como são pequenos, trabalhava-se todo o dia e, no verão, como os dias são maiores e muito quentes, as pessoas levantavam-se muito cedo e depois, nas horas de maior calor, dormiam a cesta.
O meu pai contou-me que, nos tempos livres, ia ajudar os seus pais na agricultura ou na criação dos animais. Por isso, havia pessoas que nem iam à escola, porque tinham de ajudar os pais nos trabalhos. Também me contou que o seu irmão mais velho tinha de ter a responsabilidade de cuidar dele, porque era mais novo.
Geralmente, o meu avô, no verão, dedicava-se a retirar resina dos pinheiros. Em Março, ia pôr as bicas nos pinheiros e fazia uma ferida na casca, para tirar a resina para uma tigela de barro. Quando esta estava cheia, tirava a resina, com uma espátula, para um pote em metal e depois levavam-no para um barril com capacidade, aproximadamente, de 200 litros. Em seguida, essa resina era transportada para uma fábrica. Depois, com os quilos que recolhiam, eram recompensados em dinheiro.
No inverno, a família toda tinha de ir para a apanha da azeitona. O meu avô, o meu tio e o meu pai iam colher a azeitona e a minha avó apanhava a azeitona do chão, ou seja, aquela que caía do panal. Também levavam as cabras.
A rotina diária dos meus avós era essencialmente o trabalho no campo. Eles tinham de acordar cedo e dar de comer aos animais e antes do nascer do sol tiravam as cabras para o campo e muitas das vezes o meu pai e o meu tio tinham de os ajudar a levar as cabras. Quando não chovesse, já com a ajuda do motor que puxava a água do poço, os meus avós, muitas das vezes com a ajuda também do meu tio e do pai, quando saíam da escola, tinham de regar a horta.
O meu pai contou-me que era sempre a minha avó que ia lavar a roupa, no tanque, à mão, e ela é que também fazia o comer.
O meu pai lembra-se que a sua alimentação era reduzida: comiam-se legumes, saladas, couves, tudo o que se conseguia produzir na horta. Nas refeições, só se comia um prato, ou seja, ou se comia sopa ou só o segundo prato. Para adquirir peixe, no fim-de-semana, passava o peixeiro pelas aldeias, que trazia peixe em caixas dentro da carroça puxada por um burro. Para pagamento do peixe, entregavam ovos e, se não tivessem ovos, pagavam com dinheiro. A carne que se comia era adquirida dos animais criados.
O pão era cozido no forno a lenha. Semeava-se trigo para fazer pão e, na moagem, entregava-se o trigo e recebia-se a farinha e para pagamento, a moagem ficava com uma parte de trigo (dependia do peso do trigo). Quando não tinham tempo para ir à moagem, moíam no moinho de água.
As bebidas frescas guardavam-se no poço, junto à água. Não havia arcas frigoríficas, para guardar a carne era necessário metê-la no sal. Ou melhor, não havia electrodomésticos, porque não havia electricidade. Como não havia electricidade e como o meu pai tinha de ajudar a família nos trabalhos, ele fazia os trabalhos da escola à noite, com a luz da candeia a petróleo. Mas o meu pai disse-me que o meu avô ia a Espanha comprar coisas que não se podiam comprar cá, como, por exemplo, um rádio a pilhas.
Também não havia água canalizada e as pessoas passavam parte do tempo a transportar água da fonte pública para casa. Isso ajudava a fazer mais convívio.
Em caso de doença, bebiam-se muitos chás. Anualmente, iam enfermeiras às escolas vacinar os alunos. Não havia centro médico nas aldeias, se houvesse algum problema grave iam ao hospital de Castelo Branco. Por isso, se não ficassem muito doentes, podiam passar toda a vida sem ir ao médico.
A nível de transportes, havia um táxi e uma camioneta de caixa aberta para levar objectos de maiores dimensões, como por exemplo, para levar pinheiros, trigo, resina, etc. Para transporte dentro da aldeia, só usavam burros. E depois também havia um autocarro de manhã para a cidade e à noite para a aldeia, que parava em frente ao posto dos correios, pois assim aproveitava para levar e deixar pequenas mercadorias.
Relativamente aos meios de comunicação, o meu pai lembra-se que havia um telefone público numa casa de comércio e nessa mesma casa também havia o posto dos correios.
Os brinquedos do meu pai eram de madeira, porque, no trajecto de casa para a escola e vice-versa, passava por uma serração à beira da estrada. Ele apanhava bocadinhos de madeira e fazia brinquedos. Por vezes, os brinquedos dele eram simplesmente pedras do chão, com que fazia construções e vários jogos.
O meu pai contou-me que, na escola, a professora comprava a maioria das coisas necessárias, ou seja, materiais escolares necessários e depois, quando a professora entregasse os livros, os pais tinham de pagar.
Sobre a roupa o meu pai contou-me que havia dois fatos, era o do Domingo, quando iam à missa e o outro para trabalhar, que às vezes andava com vários remendos. Como não havia tanta variedade de roupa, por vezes vestia-se roupa inadequada para a estação.



O meu pai, o rapaz de camisola amarela, com a sua turma (anos 70).

Inês Martins